Tudo o que você precisa saber sobre a uva Merlot.
História
Assim como diversas outras variedades de uvas viníferas vieram do Oriente Médio para conquistar a Europa ao longo da história do vinho, a Merlot também teria sido trazida à França de lá. Aliás, seu primeiro registro de uso na fabricação do vinho é relativamente recente, datando de 1784, na região de Bordeaux.
De acordo com os cientistas que estudam as uvas e videiras — que, para quem não sabe, se chamam ampelógrafos —, a Merlot é, como suas irmãs Carmenère e Cabernet Sauvignon (outras duas francesas bem famosas), descendente da Cabernet Franc.
Atualidade
Apesar de só ter aparecido no século XVIII, não demorou para a Merlot se espalhar de Bordeaux para o mundo. Em 1855, ela já aparece nos registros de uvas tintas cultivadas na Itália com o nome de Bordò, sendo hoje, como dissemos, a segunda mais cultivada do planeta.
Um fator que favoreceu esse sucesso estrondoso foi sua adaptabilidade ao clima dos vinicultores do Novo Mundo, dentre os quais o Brasil vem se destacando desde a década de 1970. De fato, a uva gostou tanto da Serra Gaúcha que há quem diga que ela deveria ser o emblema da nossa principal região produtora de vinho, já pensou?
Para se ter uma ideia, apenas metade da produção mundial de Merlot vem da região de Bordeaux (onde ocupa o dobro de hectares cultivados com Cabernet Sauvignon). O restante está distribuído pelas mais variadas localidades como Israel, Romênia, México, Califórnia, Nova Zelândia, Suíça, África do Sul, Canadá, Chile, Uruguai, Argentina e, claro, o Brasil.
Quais são suas principais características?
Outra polêmica em torno da Merlot — dessa vez bem mais controversa que a questão do nome — tem a ver com o momento de colheita das uvas. A coisa é tão séria que acabou dividindo o estilo de produção em dois, dependendo do momento em que a uva é colhida, acredita? Entenda!
Padrão internacional
Uma das grandes vantagens do cultivo da Merlot fora da Europa é o fato de ela amadurecer rápido e poder ser colhida bem cedo, antes que chuvas e outros problemas climáticos possam prejudicá-la. Para alguns, no entanto, na realidade ela fica muito mais gostosa quando é deixada por mais tempo no cacho, já que fica ainda mais doce.
Esse é o padrão mais usado nos vinhos produzidos no Novo Mundo com a Merlot. Suas características são:
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Aroma mais intenso e perfumado;
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Sabor e aroma de cerejas ou ameixas bem maduras e doces;
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Taninos macios e maduros;
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Menor acidez.
Padrão francês
A segunda “linha”, por assim dizer, de produção de vinhos com a Merlot, prefere a colheita no momento certo, sem deixar que ela amadureça demais. De acordo com os puristas, esse método permite que a bebida mantenha sua elegância e leveza originais, deixando-a mais fresca e aumentando sua longevidade.
No Brasil, como na França, essa é a forma de cultivo predominante, já que ajuda a proteger as videiras das chuvas de verão. As características do vinho feito com a uva colhida “na hora” são:
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Aroma intenso, mas mais discreto;
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Sabor e aroma mais frescos, de frutas azedinhas como morango ou framboesas;
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Taninos macios e sedosos;
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Acidez ainda moderada, mas maior do que na colheita tardia.
Blend ou varietal
Tanto em uma linha como na outra, quando comparada a outras uvas, a Merlot chama a atenção por ser frutada e aveludada, mais um motivo pelo qual é tão popular no mundo!
Os vinhos varietais, isto é, feitos só com Merlot, geralmente são bem suaves e fáceis de beber. Já nos blends (principalmente com Cabernet Sauvignon e Tannat), essa uva ajuda a amaciar os taninos, como acontece no Bordô.
Quando é amadurecido em barris de carvalho, o Merlot fica ainda mais macio e ganha um gostinho que lembra café, baunilha, chocolate e especiarias.
Como acertar nas harmonizações com Merlot?
Quando o assunto é combinar um vinho feito com Merlot com a comida, essa uva é bem eclética, já que não está em nenhum extremo de acidez, taninos ou doçura. Para fins de comparação, poderíamos dizer que é como se fosse um meio-termo entre Syrah e Pinot Noir.
Os varietais de Merlot harmonizam bem com frango ou carnes vermelhas (de bife de boi a pato, coelho e cordeiro), frios como salaminho, presunto, etc., queijos de quase todo tipo, legumes cozidos ou assados, ervas e especiarias, funghi, massas com molho vermelho, risotos e muito mais.
O único “senão” do Merlot são as comidas apimentadas, que podem se sobrepor à suavidade do vinho, além das saladas de folhas e peixes, que não dão certo com seu sabor.
Nos blends, como os vinhos Bordô que usam Merlot e Cabernet Sauvignon, as carnes vermelhas de todo tipo combinam-se com os taninos para deixar toda a refeição mais saborosa. Vale harmonizar até com hambúrguer e churrasco! Nesse caso, fuja apenas dos pratos leves demais, que vão ser quase apagados pelo poder do vinho, ok?
Agora que você já sabe tudo sobre a uva Merlot e os vinhos produzidos com ela, será que conseguiria diferenciá-la da Cabernet Sauvignon pelo paladar ou aroma? Faça uma degustação em casa, compare com as características que listamos e coloque o conhecimento que acabou de ganhar em prática!
Por Jhonatan Marini
28/03/2017